terça-feira, março 07, 2006


Existem dias em que nada parece tão perfeito quanto o olhar de quem você ama, quando temos certeza de que a melhor coisa é sentir seu calor e seu beijo.
Sentir que ele sempre está presente.
É uma declaração açucarada eu sei, mas como o Fernando Pessoa sob o heterônimo de Alváro de Campos mesmo já escreveu:

Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras, Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor
É que são Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente Ridículas.)

21/10/1935 (publicado em acção, nº 41, 6 de Março de 1937

2 comentários:

Aline Erika disse...

Vou procurar pelo livro.
Quanto aos heterônimos do Fernando Pessoa são três: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e o Ricardo Reis.
Dos três o que mais gosto é o Álvaro de Campos, suas poesias são existencialistas e céticas.

Anônimo disse...

Bonitas palavras, Clarice. Parabéns pelo contexto do seu blog.