quinta-feira, junho 07, 2007

A literatura como criadora de realidade e valor.


Pensar em literatura é pensar sobre o mundo, a literatura recria o imaginário e transforma em palavras o que antes habitava o mundo das idéias.
É difícil descrever o que é literatura, como já disse Roberto Acízelo, a partir do momento que a teorizamos podemos problematizá-la.
Não é fácil discutir literatura, muito se fala, pouco se conclui, vivemos num momento em que o importante é o quanto o livro vende, não a sua qualidade, a discussão do que realmente é literatura fica restrito ao mundo acadêmico, que infelizmente fecha-se na apreciação apenas dos clássicos. Convivemos numa sociedade consumista e globalizada, onde tudo vira “moda” e como toda “moda” tudo se torna passageiro.
O mundo está cada vez mais reificado e o ser humano tem o senso crítico domesticado, não é concedido que se pense fora do padrão, do banal, do plausível, do capitalizável. Convivemos numa sociedade onde tudo é absorvido, rotulado e vendido como mercadoria, onde essa mesma mercadoria é fetichizada.
O poder do capital é o que mede a vida das pessoas, a vontade de ter, torna o ser algo ridicularizado, sem importância, o ser fica em função do ter, pois, preciso ter algo para ser alguém, preciso consumir para ser.
Discutir literatura neste meio onde tudo tem seu sentido esvaziado para tornar-se mercadoria parece algo sem sentido, mas talvez seja por isso que se torne necessário. Talvez encontremos nesta discussão um sentido para continuar pensando e falando sobre literatura.
O valor que a literatura oferece para a sociedade é fundamental para compreender o mundo que nos cerca, é através dela que é possível entender o que estamos vivendo.
Na literatura encontramos materializado um mundo que algumas vezes ficava apenas na imaginação do autor. Podemos pegar como exemplo a sociedade criada por George Orwell em seu clássico “1984”, nele o autor cria uma sociedade vigiada, massacrada, aterrorizada e passivizada, nada muito diferente do que vivenciamos na nossa realidade atual.
É na literatura que problemas podem ser discutidos, que o mundo pode ser fotografado ou simplesmente inventado ou reinventado.
Para Aristóteles a literatura deveria ter como principais aspectos a mimese, a verossimilhança e a catarse, que seriam a imitação do real, a coerência e a purificação dos sentimentos.
Hoje observamos que a literatura precisa ser mais que isso, porém sem perder seus princípios de base, não é necessário que se descreva o real, mas é necessário que essa descrição ou não do real seja de alguma forma coerente.
A literatura contribui para uma visão mais crítica do mundo, ela permite que outros mundos sejam descobertos, é a partir da leitura que o senso crítico é ampliado, mas não é qualquer leitura que contribui para isso, ler o que é conhecido, não ajuda a descobrir, como vou conhecer algo novo lendo sobre o que já conheço?
Porém podemos ler o que conhecemos numa perspectiva que não conhecemos, como, por exemplo, ler a vida dos jagunços pela ótica do Guimarães Rosa no Grande Sertão: Veredas, mesmo que saibamos sobre a obra é diferente de ler um romance de banca de revistas onde sei quem são os personagens, como é o enredo e como a história termina.
A literatura tem o papel de abrir o leque do desconhecido e permitir que desbravemos o mundo.
Quando tomamos conhecimento disso que antes nos era desconhecido, passamos a questionar e interrogar sobre o que não parece estar certo, por isso ter uma população que detenha o conhecimento é tão assustador para a ínfima parcela “poderosa” da nação, pois a partir do momento que se conhece, os abusos não são aceitos passivamente.
Por isso controlar e proibir que o conhecimento seja compartilhado e acessível para todos sempre foi a grande preocupação de sociedades despóticas.
Pensar e discutir sobre literatura é algo necessário para conhecer sobre o mundo e refletir sobre nossa posição na sociedade.