quinta-feira, abril 13, 2006

Vou deixar para vocês um poema muito interessante de Elisa Lucinda que nasceu em Vitória, Espírito Santo no dia 2 de fevereiro de 1958 além de poeta é escritora, jornalista e atriz.

Aviso da Lua que Menstrua
Elisa Lucinda
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço às vezes parece erva,
parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
Barriga cresce, explode humanidades e ainda volta pro lugar
que é o mesmo lugar
mas é outro lugar,
aí é que está: cada palavra dita,
antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado ou sem os devidos cortejos...
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta" a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do cotidiano que a mulher extrai filosofia
cozinhando, costurando
e você chega com a mão no bolso julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe: VACA é sua mãe.
De leite. Vaca e galinha... ora, não ofende.
Enaltece, elogia: comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite pensando que está agredindo que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

2 comentários:

Aline Erika disse...

Olá!!!
Os poemas da Elisa Lusinda são bastantes sensuais, gosto desse poema por ser uma forma direta e ousada de falar de algo tão íntimo da nossa feminilidade!!
A semana santa curti o ócio, não sou religiosa.
Abraçoss

Aline Erika disse...

É verdade!!!
É díficil ler poemas sensuais e eróticos bem escritos.
Há os que soam piegas e forçados.
Abraços....